A Febraban realizou, nesta semana, a 2ª edição do Congresso de Prevenção e Repressão a Fraudes, Segurança Cibernética e Bancária. O evento foi realizado em São Paulo, no Centro de Convenções do Distrito Anhembi, durante dois dias, com debates sobre a segurança bancária, reafirmando seu compromisso em liderar as discussões para evoluir o ecossistema de proteção do setor.
Com a participação de milhares de pessoas de bancos, instituições financeiras, meios de pagamentos e fornecedores de serviços, a GIF International marcou presença no evento com nosso estande.

O congresso também contou com extensa programação com palestras e painéis sobre:
- Desafios no combate a fraudes bancárias;
- Tecnologias e inovações aplicadas no enfrentamento;
- Segurança de dados;
- Estratégias e avanços na prevenção e repressão de fraudes;
- Uso da inteligência artificial;
- Entre outros.
Inclusive, Pablo Colombres, CEO da GIF International, foi convidado para participar do painel “Desafios atuais na prevenção a fraudes internas”. Veja o artigo completo sobre o bate-papo!
Fraudes bancárias geram maiores prejuízos
Issac Sidney, presidente da Febraban, fez a abertura do evento de repressão a fraudes e trouxe dados inéditos alarmantes sobre os prejuízos financeiros.
As fraudes bancárias e financeiras geraram perdas de R$ 10,1 bilhões ao setor bancário no Brasil nos últimos dois anos. Trata-se de um aumento de 17% em comparação com o período anterior, quando o prejuízo atingiu a marca de R$ 8,6 bilhões.
Ao falar apenas do PIX, o sistema de pagamentos e transferências instantâneas também teve crescimento no número de fraudes, com alta de 43%, somando R$ 2,7 bilhões.
Diante deste cenário, para prevenir essas fraudes e crimes cibernéticos, somente em 2023, as instituições financeiras investiram cerca de R$ 5 bilhões.
Apesar do alto valor destinado para segurança, Sidney destacou que os aplicativos bancários permanecem inviolados e que o grande desafio é a engenharia social cada vez mais sofisticada: “Os criminosos induzem as vítimas a fornecerem informações sigilosas.”
Parcerias na repressão a fraudes
Uma estratégia fundamental é o desenvolvimento de parcerias entre os órgãos públicos e o setor privado para fortalecer as estratégias de segurança. Inclusive, a Febraban lançou, recentemente, a Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais junto com o Ministério da Justiça.
“O problema é coletivo e a solução passa, necessariamente, por várias mãos. Ou nos unimos, ou vamos sucumbir diante desses fraudadores cada vez mais sofisticados e sorrateiros”, declarou Isaac, lembrando que as fraudes vão além do setor bancário e afetam também o varejo e as telecomunicações.
No painel de abertura, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, reforçou o discurso sobre a importância da integração entre os setores para o combate ao crime digital e cibernético. Inclusive, este é um dos eixos trabalhados dentro da PF na repressão das fraudes.
Desde 2017, a Polícia Federal já atua em conjunto com a Febraban para trocar informações com o objetivo de facilitar as investigações. “Esse não é só um desafio das instituições de segurança”, afirmou. Rodrigues também destacou outros dois eixos de atuação: a descapitalização das organizações criminosas para interromper suas operações e a cooperação internacional.
Já o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, recomendou a reestruturação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para atuar de maneira mais efetiva contra o crime organizado. “Nós precisamos que o Coaf seja forte para que, junto com o sistema financeiro, possamos separar os infratores.”
Cooperação internacional
No painel “Estratégia da Interpol no enfrentamento de crimes cibernéticos e fraudes”, Valdecy Urquiza, secretário-geral da Interpol, também defendeu a necessidade de integração, assim como a colaboração internacional e a troca de informações para um combate efetivo das fraudes.
“Não há como combater esse delito atuando de forma isolada. Não há como defender o interesse nacional, interesse de uma instituição brasileira, se não houver elementos e instrumentos que permitam a polícia brasileira a atuar no exterior. O principal elemento que a Interpol visa é o intercâmbio de informações quando for preciso obter evidências em outros países”, disse.
Urquiza ainda destacou a necessidade de investir no treinamento de policiais de todo o mundo: “O segundo elemento é trabalhar para que as polícias em todo o mundo possuam o mesmo tempo de resposta. O fato da PF no Brasil se encontrar no nível de excelência não é suficiente para o sucesso das investigações, porque se precisa produzir prova em um país em outra região e a polícia local não estiver preparada, sem o conhecimento e as ferramentas necessárias, a investigação não terá sucesso.”
Neste sentido, a Interpol ajuda para existir pelo menos o nível essencial de resposta em todos os países membro, principalmente a partir do centro de inovação criado em Cingapura em 2015. “Nele, trabalhamos com empresas privadas, universidades e outros parceiros, fazendo análise de cenários e desenvolvendo ferramentas para investigar os delitos”, comentou o secretário-geral.
Endurecimento da legislação
Com a dificuldade no combate e repressão a fraudes, o presidente da Febraban apoiou punições mais severas. Sidney recomendou a penalização de pessoas que emprestam ou alugam suas contas, as chamadas contas laranjas, para que os criminosos recebam e movimentem os valores originados de fraudes.
“Precisamos banir essas pessoas e impedi-las de realizarem transações financeiras, excetuando-se aquelas transações para crédito de seu salário”, disse o presidente da Febraban, que sugeriu punições também para dirigentes de instituições financeiras que aceitam as fragilidades e vulnerabilidades no processo de abertura e manutenção de contas.
Ainda sobre os laranjas, o head de segurança corporativa do Itaú, Adriano Volpini, ressaltou que esta é uma das grandes dificuldades do setor financeiro. “A velocidade das transações digitais tornou os golpes mais sofisticados e difíceis de rastrear, especialmente no caso das chamadas contas laranjas. Identificar essas contas antes que elas sejam usadas é um dos grandes desafios”, analisou.
Indicadores de fraudes
Outro painel interessante no Congresso de Repressão a Fraudes foi a “Visão sobre os indicadores de fraudes em canais eletrônicos e digitais”. Nele, Volpini destacou a importância de ter dados estruturados e medir os resultados.
“Tudo que você não mede bem, você não melhora. E a velocidade com que a fraude se transforma é muito grande. Então se você não tem uma forma de medir e identificar as situações, com dados estruturados fica muito difícil. A informação estruturada permite prever movimentos, prever situações”, explicou.
O dirigente do Itaú ainda comentou sobre a mudança nos indicadores monitorados nos últimos tempos. “Olhar para fraudes tradicionalmente é medir o falso positivo, o quanto detecta de fraudes o quanto consegue evitar, o quanto reduz de custo. Mas hoje o que importa é a experiência do cliente. Então, agora falamos em clientes impactados e como reduzir o impacto.”
Ricardo Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), também abordou 3 questões chave:
1. Regulação nº 6 do Banco Central, que determinou o compartilhamento de dados sobre fraudes entre instituições financeiras, destacando a importância de ter esses dados integrados para conhecer melhor os fraudadores e evitar novas fraudes.
2. Necessidade das instituições financeiras fortalecerem os processos de “Conheça Seu Cliente” (Know Your Customer).
3. Entrada de novas empresas no setor financeiro que aumentou a competitividade, mas ao mesmo tempo, não tinham a maturidade suficiente em procedimentos de KYC e prevenção à lavagem de dinheiro.
Plataforma Tentáculos
Na repressão a fraudes bancárias, a Plataforma Tentáculos da Polícia Federal virou referência e um painel abordou os avanços e desafios da plataforma.
Otavio Margonari Russo, diretor de combate a crimes cibernéticos na Polícia Federal, falou sobre o desafio de garantir a qualidade na investigação. “A Tentáculos já foi um banco de dados, hoje é um sistema de investigação, usado para investigar também golpes digitais. O sistema foi feito para ter um nível de qualidade padronizado para operar no Brasil inteiro. Estamos aprimorando a ferramenta para que o input humano seja o menor possível para gerar relatórios eficazes contra as fraudes”, disse.
Já Cristiano Moura, head sênior antifraude do Santander, destacou a colaboração com a Polícia Federal com o conhecimento na identificação e prevenção de fraudes, assim como na automação e mineração de dados, para mapear comportamentos fraudulentos e laranjas, além de investir em descobrir em qual região acontece a fraude, de onde vem o dinheiro, em qual device, entre outros detalhes.
Gestão de crises e cibersegurança
Como não podia deixar de ser, a cibersegurança também foi bastante debatida. No painel “Gestão de crises e compartilhamento de informações em cibersegurança: papéis e responsabilidades”, José Luiz Santana, chefe de segurança digital do C6 Bank, e Marcos Lima, executivo de segurança cibernética do Santander Brasil, abordaram o tema.
“A gestão de crises precisa de um framework robusto para gestão de riscos que aborde diferentes cenários, com crises com incidentes cibernéticos, crises com pessoas, ou com questões financeiras”, afirmou Marcos Lima.
Para Santana, a segurança cibernética cada vez mais está no centro das discussões e faz parte do core do negócio. “A segurança cibernética precisa estar presente desde a concepção de cada produto. É o conceito de security by design. E a segurança de forma mais ampla precisa dar segurança para clientes, evitar fraudes, dar integridade de dados e manter a privacidade.”
Com isso, o executivo do C6 vê a segurança como uma alavanca para a inovação. “Encontrar os atalhos para deixar o ambiente seguro é um modo de habilitar negócios. É a mola propulsora para a inovação e para ser disruptivo em algum processo específico. Então, inovação e a segurança podem andar juntos”, concluiu.
Além disso, o executivo do Santander apontou a necessidade dos planos de crise e capacitação emocional para lidar com esse cenário. “Eles precisam estar prontos. O que vai fazer no cenário a, b, c. Também tem a preparação emocional. O que mais dificulta na crise é a incerteza, que gera insegurança e atrapalha a tomada de decisão. Por isso, é importante testar e treinar a emoção, fazer simulações surpresa, inclusive com os executivos.”
Combate ao crime organizado
Ainda na conexão entre o público e o privado, em painel sobre o “Papel da segurança bancária na estratégia nacional de combate ao crime organizado”, Rodney da Silva, diretor de operações integradas e de inteligência da SENASP/MJSP, enalteceu o potencial de ajuda da iniciativa privada para a segurança pública, principalmente no que se refere à produção de conhecimento e de informações sobre fraudes.
“As instituições têm unidades de estrutura de inteligência que podem ajudar no combate ao crime organizado, principalmente em fraudes bancárias que é uma das principais preocupações das polícias”, declarou.
Evolução da segurança de dados
Para fortalecer as iniciativas de repressão a fraudes, a proteção de dados também é fundamental, já que muitas fraudes ocorrem por phishing e engenharia social. No painel “Evolução da segurança de dados no Brasil”, Patrícia Peck, CEO e sócia-fundadora do Escritório Peck Advogados, indicou desafios neste assunto.
“Tivemos algum erro no meio do caminho de tornar o celular a chave. Quando alguém rouba o seu celular hoje, esse infrator consegue se passar pela pessoa muito rapidamente. É muito bom ter o celular como fator duplo de autenticação. Mas o criminoso consegue rapidamente acessar tudo quando pega o celular. Então, precisamos repensar isso e colocar a pessoa como a chave e não o device. Neste sentido, temos que ver a questão da biometria como o fator de autenticação”, discorreu.
Cyber Threat Intelligence
Também entre os melhores momentos do Congresso de Repressão a Fraudes, podemos citar o painel “Contexto international do Cyber Threat Intelligence”, com Gonçalo Ribeiro, head de ciber inteligência da Europol, e Ricardo Nilsen, head de segurança cibernética do Banco Safra.
Nilsen analisou os desafios atuais como ransomware, DDoS e engenharia social, mas apontou os problemas do futuro. “Precisamos pensar em situações que potencializam os problemas cibernéticos, como Inteligência Artificial e Blockchain. Já vemos ataques mais inteligentes e que mudam sua maneira rapidamente para serem mais efetivos. A IA aplicada na engenharia social traz grandes impactos, como o caso do vhishing, com vozes de executivos de bancos sendo copiadas e usadas para enganar pessoas”, opinou.
Além disso, o executivo do Safra citou as contas reais válidas que transitam dinheiro de atos ilícitos (laranjas) e ‘insiders’ dentro do banco, ou seja, funcionários envolvidos com grupos criminosos.
Já o head da Europol apontou a necessidade de acordos operacionais e estratégicos para troca de informações entre países, sendo possível assim realizar ações e operações de cibersegurança e Law Enforcement para apurar fraudes e identificar responsáveis.
