A expansão acelerada das fintechs nos últimos anos gerou brechas no segmento financeiro, com vulnerabilidades exploradas por esquemas criminosos, que passaram a utilizar as empresas para lavagem de dinheiro e fraudes sofisticadas. Neste sentido, a Receita Federal publicou uma instrução normativa, atualizando a regulamentação das fintechs no Brasil.
Antes de entender melhor como funciona essa regulamentação, é importante considerar o cenário das fintechs. O número de instituições no Brasil disparou 77% em 5 anos, saltando de 1.158 empresas em 2020 para 2.048 em 2025, segundo levantamento da A&S Partners. A estimativa ainda prevê que o mercado de fintechs deve alcançar a marca de 3 mil companhias em 2027.
Com as facilidades e benefícios promovidos por essas instituições, inclusive, cresce o número de usuários que abre contas bancárias em fintechs.
De acordo com estudo da Cornerstone Advisors, os bancos digitais e as fintechs foram responsáveis por quase metade (44%) das contas abertas. Já os megabancos e os regionais representaram 43% do total.
Lavagem de dinheiro envolvendo fintechs
A agilidade e a flexibilidade que impulsionaram as fintechs se tornaram atrativos para esquemas de fraude e lavagem de dinheiro, explorando lacunas regulatórias. Os criminosos passaram a utilizar contas digitais para movimentações suspeitas, fragmentação de recursos ilícitos, triangulações financeiras e até o uso combinado com criptomoedas e apostas online.
O caso mais emblemático veio à tona em agosto de 2025, com a Operação Carbono Oculto. Conduzida pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público, a investigação revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizava fintechs e fundos de investimento como instrumentos centrais para lavar dinheiro do esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis.
De acordo com a investigação, entre 2020 e 2024, foram movimentados mais de R$ 46 bilhões em um “sistema financeiro paralelo”, articulado para dar aparência lícita a recursos provenientes de sonegação, fraudes tributárias e adulteração de combustíveis.
O esquema envolvia postos de gasolina, empresas de fachada e investimentos imobiliários, todos interligados por transações via fintechs que funcionavam como canais ágeis para mascarar a origem ilícita dos valores.
Leia também: Quando sua empresa deve enviar comunicação ao Coaf sobre lavagem de dinheiro?
Atualização da regulamentação das fintechs no Brasil
Diante desse cenário alarmante, a Receita Federal publicou uma instrução normativa equiparando fintechs a bancos, obrigando-as a cumprir as mesmas exigências em termos de transparência, fiscalização e combate à lavagem de dinheiro.
Não se trata de criar novas regras para as fintechs, mas aplicar as definições da Lei nº 12.865, de 2013, que dispõe sobre os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
O objetivo conforme o próprio texto da Receita é o “combate aos crimes contra a ordem tributária, inclusive aqueles relacionados ao crime organizado, em especial a lavagem ou ocultação de dinheiro e fraudes”.
Com a medida, é possível mitigar o vácuo regulatório explorado por organizações criminosas e restaurar a confiança no ecossistema das fintechs.
O que diz a regulamentação das fintechs no Brasil?
Atendimento às mesmas obrigações dos bancos
A instrução normativa publicada em 29 de agosto de 2025 equipara fintechs às instituições financeiras tradicionais, impondo a obrigação de reportar indícios de crime e de fornecer registros financeiros por meio da e-Financeira. Este sistema é utilizado para monitorar movimentações financeiras de alto valor.
Compromisso com a transparência
A Receita ressaltou que fintechs tinham sido utilizadas por organizações criminosas devido à falta de exigências de transparência. Com a atualização da regra, a ideia é eliminar esse vácuo e garantir o cumprimento das regras de transparência.
Vigência imediata após megaoperação
A publicação da nova norma ocorreu imediatamente após a Operação Carbono Oculto, que desmantelou esquemas de lavagem de dinheiro via fintechs, e a regra já está em vigor.
Saiba mais: Como identificar conta laranja e prevenir fraudes na sua instituição financeira
Como funciona a regulamentação das fintechs no Brasil na prática
Envio de e-Financeira
As fintechs deverão reportar transações atípicas a partir de R$ 5 mil mensais para pessoas físicas e R$ 15 mil para jurídicas via sistema e-Financeira, que é cruzado pelo COAF e Receita para identificar padrões suspeitos.
Monitoramento e cruzamento de dados
A Receita ampliou a capacidade de fiscalização usando inteligência artificial para rastrear atividades atípicas inclusive via Pix e sistemas eletrônicos de pagamento.
Fiscalização em parceria com autoridades policiais
As fintechs passarão a ter maior fiscalização para investigação de crimes financeiros, por meio da comunicação obrigatória de indícios de lavagem de dinheiro.
Como as fintechs devem se adaptar à regulamentação?
1. Reforço de governança e compliance
Com a regulamentação das fintechs no Brasil, as empresas precisarão:
- Adotar mecanismos de compliance robustos, com políticas claras de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD);
- Implementar programas internos de integridade;
- Realizar processos de KYC (Know Your Customer) e due diligence de parceiros;
- Manter registros detalhados de todas as operações;
- Melhorar suas estruturas internas para rastrear transações suspeitas;
- Atender ao envio de dados;
- Eliminar falhas que facilitem crimes financeiros.
2. Custo operacional e investimentos em tecnologia
A conformidade regulatória exigirá investimentos expressivos em tecnologia e recursos humanos, como ferramentas de monitoramento em tempo real, análise comportamental e inteligência artificial, a fim de identificar transações atípicas ou indícios de fraudes.
Além disso, será necessário capacitar equipes internas em práticas de PLD, criar comitês de risco e compliance e contar com consultorias especializadas para desenhar processos eficazes.
3. Maior responsabilidade e risco reputacional
Após a Operação Carbono Oculto, as fintechs passaram a ser vistas não apenas como alternativas inovadoras, mas também como possíveis vulnerabilidades no sistema financeiro. Isso demanda cuidado com governança, transparência e adoção de práticas robustas de prevenção.
Nesse contexto, transparência, comunicação proativa e auditorias regulares serão fundamentais para demonstrar confiabilidade e manter a fidelidade dos usuários, mitigando perdas financeiras e danos à reputação.
Oportunidade para as fintechs
Apesar dos desafios, a regulamentação abre espaço para que fintechs se consolidem como atores de confiança no mercado financeiro. As empresas que adotarem boas práticas de compliance, obtiverem certificações reconhecidas e firmarem parcerias estratégicas com órgãos reguladores poderão se posicionar como líderes de segurança e inovação.
Essa postura não apenas mitiga riscos, mas atrai investidores, fortalece relacionamentos com grandes corporações e amplia as possibilidades de crescimento sustentável.
Como a GIF International apoia fintechs na conformidade regulatória
A regulamentação da Receita Federal, que coloca fintechs no mesmo patamar dos bancos em termos de fiscalização e obrigações, marca uma mudança estrutural no mercado financeiro. Esse movimento visa eliminar o vácuo regulatório explorado por esquemas criminosos, enquanto exige das empresas uma rigidez maior em governança, compliance e transparência.
A adaptação a esse novo contexto é estratégica para as fintechs. Afinal, as instituições que incorporarem maior robustez em seus controles ganharão competitividade, reputação e segurança.
Neste sentido, a GIF International é a parceira ideal para apoiar essa transformação, com a aplicação da regulamentação das fintechs no Brasil. Nosso ecossistema de combate a fraudes conta com soluções integradas e personalizadas de consultoria, prevenção e investigação especializada.
No que se refere à Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD), oferecemo:
- Estruturação de programas;
- Revisão de processos;
- Realização de treinamentos.
Desenvolvemos e implementamos programas de PLD/FTP robustos, com regras de risco alinhadas às necessidades do seu negócio.
Também implementamos políticas internas consistentes e criamos processos sólidos de Know Your Client (KYC), Know Your Employee (KYE), Know Your Partner (KYP) e Know Your Supplier (KYS).
Além disso, nosso ecossistema possui soluções de due diligence investigations, background check, investigação de fraudes, desvio de conduta e muito mais para apoiar as fintechs, bancos e instituições financeiras em seus desafios.
Sua empresa quer estar pronta para esse novo capítulo regulatório e se posicionar no patamar de instituições de confiança? Converse com os especialistas da GIF International agora mesmo.