Geralmente, em processos de investigação de fraudes corporativas, é possível identificar o envolvimento de colaboradores internos. Em grande parte desses casos, acontece o aliciamento de funcionários por fraudadores para a participação em esquemas e, assim, eles se tornam agentes facilitadores para que ocorram os incidentes.
Atualmente, as empresas precisam ficar atentas ao comportamento de seus profissionais, porque o aliciamento de funcionários é uma das principais ameaças, elevando o risco de fraudes.
Afinal, a partir do momento em que os próprios colaboradores ajudam fraudadores com informações sobre infraestrutura, instalações ou procedimentos, como por exemplo o transporte de cargas, o risco de ter uma ocorrência com as mercadorias e não conseguir recuperar é realmente grande.
Segundo pesquisa da PwC de 2022, 57% das fraudes contra empresas no mundo tiveram o envolvimento ou autoria de agentes internos.
Como os colaboradores se envolvem com fraudes
As três formas mais frequentes de fraude praticadas por profissionais internos são:
- Premeditado: quando o colaborador já ingressa na empresa, fazendo parte de uma quadrilha ou grupo e entrando com o objetivo claro de obter informações privilegiadas para cometer fraudes dos mais diversos tipos, sejam desvios de mercadorias, facilitação da entrada de pessoas etc.;
- Espionagem: também existem profissionais que buscam entrar em organizações para ter acesso e roubar informações confidenciais para vender a concorrentes, por exemplo;
- Aliciamento de funcionários: neste caso, os colaboradores não tinham o intuito de praticar as atividades ilícitas, mas foram abordados por agentes externos e acabaram aceitando participar de esquemas.
Desvio de conduta
É importante destacar que este tipo de comportamento por parte dos profissionais, infringindo as normas da empresa, faz parte de um desvio de conduta, que, ao ser identificado, pode render punições, incluindo até mesmo demissões.
Triângulo da fraude como porta de entrada para o aliciamento
Ao olhar para as situações citadas anteriormente, a maior ameaça nos últimos tempos é a tendência cada vez maior de pessoas, que agiam dentro da legalidade se unirem a fraudadores.
Para acontecer essa migração de atitude, os 3 principais fatores que levam os profissionais a terem essa mudança de comportamento são:
- Pressão/necessidade: o profissional sofre com algum problema, como pendências financeiras, por exemplo, o que faz a pessoa acreditar que se aliar a grupos é uma opção viável;
- Racionalização: se trata do autoconvencimento de que aquela história faz sentido, ou o pensamento de que todo mundo comete aquele mesmo desvio, então, ele também pode fazer;
- Oportunidade: a partir daí, basta ser abordado por aliciadores ou encontrar uma brecha ou vulnerabilidade, seja em processos, locais de acesso, entre outros.
Com a pressão e racionalização, fica mais fácil de acontecer o aliciamento de funcionários e, consequentemente, o cometimento de fraudes.
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Comportamentos suspeitos dos colaboradores
Os profissionais que estão praticando fraudes contra as empresas, geralmente, apresentam comportamentos que podem servir como sinais de aviso.
Segundo estudo da ACFE, 75% de todos os funcionários envolvidos em fraudes exibiu pelo menos uma das 8 atitudes mais comuns de alerta.
- Viver além de seus recursos financeiros: 39%
- Dificuldades financeiras: 27%
- Relação muito próxima com fornecedor ou cliente: 20%
- Problemas de controle e/ou relutância para compartilhar deveres: 13%
- Irritabilidade, desconfiança ou estar na defensiva: 12%
- Atitude de negociante: 12%
- Bullying ou intimidação: 11%
- Problemas familiares ou divórcio: 10%
Mas o que é o aliciamento de funcionários?
De maneira resumida, o aliciamento refere-se ao ato de atrair ou seduzir alguém para uma ação, muitas vezes com conotação negativa, como o recrutamento para atividades ilegais.
Nas empresas, o risco de aliciamento pode acontecer em diversos contextos, seja a partir de redes sociais, na rua ou até mesmo no próprio ambiente de trabalho.
Neste âmbito, um caso que chamou a atenção recentemente foi a descoberta de uma quadrilha infiltrada no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 2023, que trocava malas com o objetivo de traficar cocaína para o exterior. Inclusive, duas brasileiras foram presas injustamente na Alemanha.
Para conseguir isso, o grupo aliciou funcionários que atuavam no manuseio de bagagens.
Principais tipos de aliciamento de funcionários
Existem diversas formas de aliciar os colaboradores para cometerem fraudes contra as empresas em que trabalham. As mais comuns são as seguintes:
- Suborno ou corrupção: oferecer dinheiro, presentes ou outros benefícios em troca do envolvimento;
- Coerção ou ameaça: usar ameaças ou intimidação para forçar funcionários a participarem;
- Abuso de privilégio: aproveitar o acesso privilegiado a informações confidenciais para benefício pessoal ou de terceiros;
- Recrutamento de cúmplices: recrutar colegas ou outros colaboradores para participarem de esquemas ilegais;
- Chantagem: usar informações comprometedoras sobre um funcionário para obrigá-lo a cooperar.
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Modalidades de aliciamento
Conforme comentamos anteriormente, os fraudadores usam abordagens variadas para aliciamento de funcionários, seja nas redes sociais, ruas ou no próprio ambiente.
Para alcançar esses colaboradores, o grupo pode usar técnicas de engenharia social para explorar o erro humano para obter informações privadas, acessos ou objetos de valor, a fim de realizar a coerção ou chantagem do profissional.
Outra prática comum é o vishing, em que os agentes externos utilizam técnicas de engenharia social em ligações telefônicas para oferecer vantagens ilícitas para ‘conquistar’ os funcionários.
No entanto, nem sempre as pessoas caem nessas sugestões de ganhos indevidos. Em 2020, por exemplo, um funcionário da Tesla recusou US$ 1 milhão de suborno para instalar um arquivo malicioso na rede da empresa na fábrica de Nevada.
Recomendações para mitigar o risco de aliciamento
Fica claro que a ameaça do aliciamento de funcionários existe e é grande. Porém, há maneiras de reduzir esse risco, implementando uma série de medidas para proteger a empresa e orientar os colaboradores sobre como lidar com essas situações. Veja as principais ações:
Ações preventivas:
Realize auditorias e diligências, de forma programada e não planejada, para avaliar o comportamento dos colaboradores e controlar os riscos de possíveis aliciamentos.
Cultura organizacional forte:
Para evitar que as pessoas da sua empresa estejam suscetíveis a aceitar subornos e verem oportunidades de se envolverem em fraudes, estabeleça valores sólidos.
Programa de compliance:
Desenvolva um programa interno robusto com todas as regras, políticas e procedimentos que as pessoas devem cumprir para garantir uma conduta ética, profissional e responsável.
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Criação de processos de KYE (Know Your Employee):
Conhecer seus funcionários de modo aprofundado, verificando suas informações cadastrais, documentações e identidade, é fundamental para saber o risco de aliciamento, mapeando as pessoas mais suscetíveis.
Políticas e procedimentos claros:
Defina responsabilidades para os funcionários e crie regras de controle de acesso e segurança para reduzir as chances de que informações sejam violadas e roubadas, sendo fontes de chantagem por exemplo.
Código de ética:
Crie um código de ética com os valores que os colaboradores devem respeitar e as medidas que devem ser seguidas no dia a dia de trabalho.
Canal de denúncias:
Ofereça um canal de denúncias para receber informações sobre possíveis atividades ilícitas praticadas na empresa.
Monitoramento de atividades e redes:
Fique atualizado sobre atividades de seus colaboradores. Como vimos anteriormente, um dos principais comportamentos suspeitos é viver além de seus recursos financeiros. Então, se identificar esse tipo de situação, abra o olho com relação ao funcionário.
Realização de treinamentos:
Promova treinamentos com a equipe para esclarecer as informações do programa de compliance, código de ética, canal de denúncias, entre outros itens, e tirar as dúvidas dos profissionais. Além disso, aproveite os canais de comunicação interna para divulgar essas questões.
Orientação no caso de abordagens de agentes externos:
Forneça explicações sobre como um funcionário deve agir em um momento de abordagem externa para ajudar em fraudes. Ou seja, se a pessoa deve fugir do fraudador, se deve ouvir a proposta e chamar a direção da empresa, ou outras ações que a companhia julgar necessárias.
Investigação de denúncias de desvio de conduta:
Faça uma averiguação completa das denúncias recebidas, com entrevistas, coleta de evidências e elaboração de relatórios sobre a ocorrência. Em caso de confirmação do desvio de conduta do funcionário, aplique as sanções previstas no código de conduta.
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