O ecossistema de pagamentos no Brasil passou por transformações profundas nos últimos anos, com PIX, open banking, carteiras digitais e a migração massiva de consumidores e empresas para canais eletrônicos, o que ampliou a superfície de ataque dos criminosos. Neste sentido, as fraudes em pagamentos deixaram de ser problema pontual para tornar-se uma ameaça sistêmica.
Com este cenário, o tema tem ganhado atenção regulatória. O Banco Central reforçou responsabilidades das instituições financeiras sobre transações relacionadas a contas usadas em esquemas fraudulentos, exigindo maior cooperação entre instituições e mecanismos mais ágeis de prevenção e bloqueio.
Essa mudança normativa redefine responsabilidades operacionais e obriga o mercado a acelerar a implementação de controles técnicos, processos investigativos e rotinas de compartilhamento de inteligência.
Norma do Banco Central sobre pagamentos
De acordo com a resolução 501 do Banco Central de 11 de setembro de 2025, as instituições financeiras passaram ser obrigadas a rejeitar pagamentos feitos para contas já identificadas como envolvidas em fraudes.
Art. 2º-A As instituições referidas no art. 1º, na prestação de serviços de pagamento, quando constatarem identificação de fundada suspeita de envolvimento de fraude em contas de depósitos à vista, contas de depósitos de poupança e contas de pagamento pré-pagas, devem rejeitar transações de pagamento que tenham essas contas como destinatárias.
A norma entrou em vigor imediatamente. Para atender à medida, as instituições precisaram adequar seus sistemas em apenas um mês.
Para avaliar o envolvimento das contas de usuários em fraudes, é possível utilizar todas as informações disponíveis, incluindo sistemas eletrônicos e bases de dados de caráter público ou privado.
Além disso, as instituições devem comunicar ao titular sobre as ações tomadas em casos de suspeita de fraude, como o bloqueio da conta.
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O que são fraudes em pagamentos e quais seus impactos?
As fraudes em pagamentos são tentativas deliberadas de:
- Subtrair recursos;
- Induzir transferências ilícitas;
- Manipular instrumentos de pagamento por meio de artifícios como engenharia social, falsificação, invasão de contas, contas laranja ou manipulação de instruções de pagamento.
A evolução tecnológica fez com que fraudes tradicionais ganhassem sofisticação técnica, como automação no envio de phishing, uso de deepfake para fraudar autorizações, e infraestrutura de lavagem financeira via cadeias complexas de contas.
Os impactos vão além do prejuízo direto:
- Perda financeira: valor roubado, chargebacks, custos de mitigação e ressarcimentos;
- Risco reputacional: clientes e parceiros perdem confiança;
- Custo operacional: investigações sobre fraudes, atendimento aos clientes afetados, reembolsos e custos de compliance;
- Risco regulatório: multas, exigências e auditorias diante de falhas de controles.
Os gestores precisam, portanto, tratar fraudes em pagamentos como risco estratégico, integrando áreas, como fraude, compliance, TI, operações, jurídico e relacionamento com clientes.
Principais modalidades de fraudes em pagamentos
1. Fraude de identidade
Os criminosos usam documentos falsos ou dados roubados para abrir contas, obter cartões, linhas de crédito ou cadastrar contas em nome de terceiros. O objetivo pode ser obter ganhos financeiros, movimentar recursos, criar contas intermediárias para lavagem, ou executar ataques em escala.
Sinais: alta velocidade na abertura de contas, inconsistências nos dados de Know Your Customer, uso de e-mails ou telefones com padrões anômalos.
2. Fraude via PIX
PIX e pagamentos instantâneos revolucionaram transferências, mas também aceleraram o ciclo de fraude. Modalidades incluem:
- Engenharia social: vítima convencida a realizar PIX para “resgatar entrega parada”, “confirmar pagamento” etc.;
- Comprovantes falsos: envio de comprovante adulterado para justificar uma transferência;
- Cascateamento: fundos movimentados rapidamente por múltiplas contas para dificultar rastreamento.
Sinais: transferências fora de padrão, múltiplas transferências em sequência, ou contas recém-criadas recebendo valores recorrentes.
3. Boleto adulterado
Os fraudadores alteram código de barras de boletos ou usam boletos falsos para desviar pagamentos para contas fraudulentas.
Sinais: divergência entre valores/beneficiário em boleto e ordens internas, e-mails com alteração de dados bancários e contas novas recebendo boletos de alto valor.
4. Fraude com cartão
No e-commerce, as fraudes envolvendo o uso não autorizado de dados de cartão são comuns.
Sinais: atividades anômalas em IPs/geolocalização e/ou múltiplas tentativas de compra.
5. Account Takeover
Trata-se da invasão de contas legítimas por meio de credenciais vazadas, phishing, ou exploração de vulnerabilidades. Uma vez dentro do sistema, o invasor autoriza transferências, altera configurações e esvazia saldos.
Sinais: login de locais/geolocalizações incomuns e/ou alteração de dispositivos/aplicativos.
6. Fraudes em pagamentos corporativos (fraudes internas)
Envolvem conluio de funcionários, falsos fornecedores, notas fiscais frias, ou manipulação de reembolsos. Esse tipo é perigoso pela confiança operacional embutida nos processos.
Sinais: fornecedores com mesmo endereço/telefone de colaboradores, solicitações atípicas de pagamento, ou edição de ordens sem validação.
Como montar uma estratégia eficaz para combater fraudes em pagamentos
Uma estratégia eficaz reúne prevenção, detecção e investigação. Abaixo veja um modelo prático e operacional:
1. Prevenção
- KYC/Onboarding robusto: validação de identidade, verificação documental, autenticação biométrica, análise de listas restritivas e de risco.
- Proteção de clientes: educação, alertas sobre engenharia social e canais seguros de confirmação.
- Políticas e controles internos: segregação de funções, políticas antifraude para fornecedores e procedimentos para alteração de contas bancárias.
2. Detecção
- Sistemas de monitoramento transacional: regras de correlação, geolocalização e limites, assim como modelos de risco.
- IA e machine learning: detecção de padrões não triviais, anomalias comportamentais e modelagem de risco adaptativa.
- Análises de listas: integrações que indicam contas, domínios, IPs e perfis usados em fraudes.
3. Resposta e investigação
- Planos de recuperação e continuidade: procedimentos claros para contenção e bloqueio de danos, assim como de continuidade de negócios.
- Comunicação e reembolso: protocolos para atendimento ao cliente, reembolso e preservação de experiência.
- Processos de investigação das fraudes: incluindo coleta de evidências físicas e digitais, entrevistas investigativas, identificação dos envolvidos e do modus operandi.
- Cooperação com autoridades: para responsabilização dos fraudadores.
Desafios e barreiras comuns das fraudes em pagamentos
Mesmo com avanços tecnológicos e amadurecimento dos processos de compliance e risco, as fraudes em pagamentos continuam crescendo. Parte disso se deve à complexidade do ecossistema financeiro moderno, que envolve múltiplos atores, sistemas interconectados e canais digitais de alta velocidade.
A seguir, detalhamos os principais obstáculos que gestores enfrentam e estratégias práticas para superá-los.
Integração limitada entre áreas e sistemas legados
Muitas empresas ainda operam com estruturas fragmentadas. As áreas de fraude, segurança da informação, operações e jurídico não compartilham dados nem processos padronizados. Sistemas legados também impedem integração entre monitoramento, alertas e investigações.
Consequência: falhas de detecção, redundância de esforços e dificuldade em conectar indícios de fraudes de diferentes canais.
Como superar:
- Criar uma estrutura de governança antifraude interdepartamental, com papéis e responsabilidades definidos.
- Unificar dados via plataformas de orquestração.
- Adotar dashboards integrados para visualização de alertas e indicadores em tempo real.
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Escassez de profissionais especializados
O déficit global de especialistas em combate a fraudes é uma realidade. Muitas instituições possuem equipes enxutas para adotar as estratégias de antifraude ao longo de toda a jornada, incluindo prevenção, detecção e investigação.
Consequência: sobrecarga operacional, demora na contenção de fraudes, dificuldade em investigar casos e descobrir vulnerabilidades e, consequentemente, maior exposição a incidentes recorrentes.
Como superar:
- Investir em capacitação interna contínua, com programas voltados à formação técnica dos profissionais.
- Automatizar tarefas repetitivas usando ferramentas tecnológicas e Inteligência Artificial.
- Estabelecer parcerias estratégicas com consultorias especializadas para suporte em picos de demanda e casos complexos.
Falsos positivos e experiência do cliente
Um dos dilemas mais desafiadores é equilibrar segurança e conveniência. Regras excessivamente restritivas para barrar as fraudes em pagamentos geram falsos positivos e atritos na experiência do cliente.
Consequência: frustração, abandono de transações e perda de confiança.
Como superar:
- Criar fluxos de verificação multicanal, permitindo que clientes confirmem transações de forma rápida e segura.
- Medir indicadores de UX junto com métricas de fraude, buscando equilíbrio entre proteção e fluidez.
Cultura organizacional e percepção de custo
Ainda é comum que o combate a fraudes seja visto apenas como algo pontual ou uma necessidade de compliance, sem entender o real valor do investimento nas ações antifraude e sem desenvolver uma cultura verdadeiramente de segurança.
Consequência: baixo orçamento destinado a fraudes e ausência de estratégia proativa.
Como superar:
- Mensurar retorno sobre investimento (ROI), como por exemplo, perdas evitadas e melhoria de reputação.
- Engajar a alta liderança com relatórios estratégicos e narrativas de impacto positivos do investimento em combate a fraudes.
- Criar indicadores de performance (KPIs) que relacionem segurança a desempenho do negócio.
Privacidade, compliance e compartilhamento de dados
A LGPD e normas setoriais impõem limites no tratamento e compartilhamento de informações, criando insegurança jurídica sobre como cooperar em ecossistemas de detecção de fraudes.
Consequência: inibição no intercâmbio de dados essenciais para prevenção e atraso na reação a ameaças.
Como superar:
- Adotar modelos de dados anonimizados e hashizados, permitindo trocas sem exposição de dados pessoais.
- Formalizar acordos de cooperação e governança de dados com outras instituições.
- Consultar áreas jurídicas e DPOs na criação de protocolos seguros de intercâmbio de inteligência.
Evolução acelerada das fraudes
Fraudadores aprendem rápido, testam novas abordagens e exploram vulnerabilidades tecnológicas e humanas. O modus operandi muda com o contexto econômico, tecnológico e regulatório.
Consequência: defasagem dos modelos de detecção e aumento da taxa de sucesso dos ataques.
Como superar:
- Implantar ciclos curtos de revisão e atualização dos modelos antifraude.
- Antecipar tendências e identificar novas técnicas de ataque.
- Promover revisões de cenário trimestrais e simulações de incidentes.
Como transformar o combate a fraudes em pagamentos em vantagem competitiva
As fraudes em pagamentos são um risco permanente, porém gerenciável. A adoção de controles técnicos avançados, políticas de governança, investigação especializada e cooperação setorial é hoje fundamental.
A nova norma do Banco Central sublinha a necessidade de ação coordenada entre instituições: rejeitar pagamentos a contas usadas em fraudes exige detecção de alta qualidade e processos claros de contestação.
Investir em prevenção, monitoramento e capacidade de investigação não apenas reduz perdas, como também protege reputação, fortalece compliance e aumenta a confiança dos clientes. Para gestores de fraudes, risco e segurança, a pergunta deixa de ser “se” e passa a ser “quando ampliar e integrar as defesas”.
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O papel da investigação corporativa e da GIF International
A resposta eficaz a fraudes em pagamentos exige investigação técnica e inteligência para identificar responsáveis e mitigar riscos. A GIF International atua com soluções completas de investigação corporativa.
Nossas metodologias combinam tecnologia com técnicas manuais para entregar evidência robusta, análise do modus operandi e recomendações para evitar reincidências.
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